Pular para o conteúdo principal

Ana e os óculos


Ana tinha um problema de visão terrível.
Não era miopia, nem astigmatismo e nem hipermetropia. Mas, para resolvê-lo, ela abusava dos óculos. Tinha vários, tantas opções que conseguia trocar várias vezes ao dia. Mas havia dias que a sua deficiência estava tão acentuada, que nenhum óculos conseguia corrigir.
As pessoas diziam "Hei, Ana, olhe...você não viu direito"! Ela se esforçava, limpava as lentes, olhava mais de perto...mas continuava sem enxergar o que todo mundo via. Isso a deixava desesperada, pois ninguém acreditava nela.
No trabalho ou durante os momentos com seus amigos e sua família, Ana fazia de tudo para colocar seu melhor óculos. Mas, ela sabia que precisava de uma lente especial, que ajustasse sua visão distorcida para sempre.

Era não era a única que tinha esse problema, e a cada dia descobria que mais pessoas enxergavam o mundo como ela. Todos procuravam a sua lente especial, e ela acreditava que um dia conseguiria encontra-lá. Enquanto isso, ela aprendia a viver sem tropeçar, com passos lentos em busca da visão da realidade.


Comentários

  1. Olá, tudo bem? O filme Entre Abelhas aborda tal pensamento.... Bjs, Fabio www.fabiotv.zip.net

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Olhe mais fundo

Solange pegava todos os dias o mesmo metrô, aproximadamente no mesmo horário, e ficava em pé no vagão sempre no mesmo local. Olhava sempre para frente, para a janela, onde via diariamente os mesmos prédios cinza, os carros parados no trânsito e as pessoas indo trabalhar. Nesse dia, estranhamente o céu estava diferente. O azul se misturava com o amarelo do sol de tal forma, que até Solange percebeu. A luz penetrou a janela e refletiu em seu relógio, fazendo o reflexo passear por entre as pessoas que estavam ali. Ela acompanhou esse rápido movimento e se surpreendeu. A senhora sentada em sua frente estava cabisbaixa, tinha o olhar triste e distante, pensava em algo não muito agradável. O rapaz ao lado também tinha o mesmo olhar distante, mas sorria, mesmo estando naquele vagão abafado e barulhento. Estava feliz. Um homem estava com a namorada, observando ela falar sobre a amiga da amiga que ficou com o vizinho na balada. Apesar da mão colocada carinhosamente na cintura da moça, o o

Um coração para as almas perdidas

"Porque às vezes...meu coração não responde, só se esconde e dói..." (Zélia Duncan) Sua vida foi sempre marcada pelas histórias amorosas mais malucas. E quem nunca teve um estranho amor? Todas as vezes que pensava nas loucuras sentimentais que havia vivido, se questionava o que era pior: os amores fora do padrão ou nunca ter amado. A segunda opção sempre parecia mais assustadora. Mas sentia falta de ter a sorte de um amor tranquilo. Apesar da certeza de que não nascera para ser uma pessoa normal, talvez encontrasse alguém que compartilhasse essa vida de estranheza. Ou não. Seu coração era uma imã para almas perdidas.

Uma carta para o passado

Mais uma manhã de aula. E como todos os dias, Ana voltava para casa com as suas amigas. A escola era seu pegueno mundo, de onde tirava suas referências e suas experiências. Era a mais acanhada das amigas e talvez por isso, não chamasse tanto a atenção dos garotos. Afinal, ausência de beleza e de desenvoltura não é a combinação dos sonhos quando se tem 15 anos. Era apaixonada por Miguel, um garoto de sua turma. Ela nem sabia o porque, pois ele nem era bonito e também nem era tão legal, mas via algo de especial no menino. Ela o amava. Miguel, por sua vez, não via nada de especial nela. Ignorava sua existência e dava em cima da amiga de Ana, que parecia não ligar para o fato de que ela sofria calada ao ver isso. Ela gostava muito de suas amigas e fazia de tudo para agradá-las e vê-las felizes, apesar de isso criar feridas que dóiam muito ás vezes. Em certos momentos, sentia-se terrivelmente sozinha e achava que nunca seria feliz, pois só enxergava felicidade nas pessoas ao redor. E